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Bianca Portela entrevista Aldo Alves sobre o LeR

Bianca Portela, acadêmica de jornalismo na Universidade Federal do Pará estudou várias iniciativas tecnológicas para leitura e fez essa excelente entrevista com Aldo Alves CEO e Fundador do Ler. Antes do trabalho ser publicado, ela nos autorizou mostrar para vocês a entrevista que fala muito sobre tecnologia, propósito e, é claro, leitura!

O Papel das Tecnologias no Incentivo à Leitura no Brasil

A democratização do acesso aos livros no Brasil é um desafio persistente ao longo dos anos. De acordo com a Agência Brasil, o país testemunhou uma queda de 4,6 milhões de leitores, passando de 104,7 milhões para 100,1 milhões, mantendo-se próximo da marca de 50% de não leitores. O alto custo dos livros físicos tem levado muitas pessoas a buscar alternativas tecnológicas mais baratas. Com o rápido avanço da tecnologia, a maneira de ler e interagir com os livros tem passado por grandes mudanças. Os dispositivos eletrônicos se tornaram essenciais no cotidiano da sociedade, criando infinitas opções de leituras. Nesta reportagem, exploraremos como a era digital está influenciando nossos hábitos de leitura e como a coexistência entre livros físicos e digitais está moldando o cenário literário contemporâneo. Diante desse contexto, a perspectiva de Aldo Alves, fundador da startup LeR, se torna valiosa.

Aldo Alves tem 47 anos, é Engenheiro Elétrico com ênfase em Computação pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e, depois de mais de 20 anos exercendo funções estratégicas em grandes multinacionais de tecnologia, empreende na criação da startup LeR, rede social e plataforma voltada para o compartilhamento de livros e conexão humana. Agora, vamos conhecer sua visão sobre o impacto das inovações tecnológicas no atual cenário literário por meio de um bate papo de perguntas e respostas.

Reporter: Como você vê o papel das tecnologias no incentivo à leitura no Brasil?

Aldo: A tecnologia tem vários papéis no incentivo à leitura: o primeiro e primordial é fazer com que a leitura gere conexão. Leitura não é isolamento, mas sim pertencimento. A tecnologia pode ser capaz de unir pessoas com um propósito em comum e, quando se fala em leitura, conhecimento e educação, esse deve ser o propósito de todos. O segundo papel é a acessibilidade, é fazer com que qualquer um em qualquer lugar consiga ter acesso a um livro, seja ele físico ou via plataforma digital. Perceba que a conexão é uma excelente forma de tornar um ativo já existente, como os livros, acessível para todos aqueles próximos à essa conexão. O terceiro papel é criar a diversidade, isto é, fazer com que o máximo possível de livros dentre as suas várias categorias e segmentos estejam ao alcance de quem estiver interessado. A tecnologia consegue resolver inclusive a barreira do custo, mas isso também precisa do envolvimento das pessoas, iniciativa privada e setor público.

Reporter: Quais são os desafios enfrentados na implementação de tecnologias para a promoção da leitura no país? E você acredita que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos, como smartphones e tablets, pode prejudicar a leitura tradicional em formato impresso? Por quê?

Aldo: O desafio é muito mais de união de entidades interessadas em levar conhecimento e educação para todos, do que necessariamente técnico. Temos mão de obra e tecnologia para importar todo o banco de dados de livros de bibliotecas públicas e bibliotecas de escolas públicas e privadas. É uma questão de direcionamento de energia e investimento. Temos um aplicativo que funciona como rede social e plataforma de compartilhamento de livros chamado LeR, que é um acrônimo para Livros e Rostos. Ele une pessoas que queiram disponibilizar livros, além de empresas e instituições de ensino para compartilhar esse acervo. É uma startup 100% paraense e já conta com quase mil usuários e quase 3 mil livros cadastrados de todas as categorias. É uma iniciativa que definitivamente as pessoas precisam olhar e contribuir com sua rede colaborativa. Finalmente, parte desse desafio também passa pelo programa pedagógico de incentivo à leitura dentro das escolas. É lá que criamos o hábito da leitura. É o lugar que deve ter um diálogo entre professores, alunos e pais para se difundir cada vez mais o conhecimento através dos livros e não apenas seguir conteúdos programáticos de prateleira. O digital não pode ser visto como concorrente da leitura tradicional impressa, mas deve ser visto como um complemento. A experiência da leitura impressa é algo inigualável. Por outro lado, as leituras digitais conseguem conter milhares de livros no só dispositivo. Não vejo que haja uma canibalização, mas sim um aumento de opções. Entretanto, existe um cuidado sobre a leitura digital que é como o contato excessivo com a tela de um celular ou tablet pode prejudicar a visão a curto, médio ou longo prazo. Como as tecnologias são relativamente recentes, ainda há pouco estudo a respeito, mas há vários artigos alertando sobre essas questões de saúde. Finalmente, um ponto que pode ser discutido é do ponto de vista jurídico: ao comprar um livro físico você tem a propriedade dele e pode fazer o que quiser, como emprestar ou dar para alguém. Ao adquirir um livro digital, você detém apenas a posse naquele dispositivo, sem poder compartilhar. Já existem planos onde o usuário paga para compartilhar em mais de um device, mas é uma escolha de cada um sobre como quer ter o livro.

Reporter: Você poderia contar um pouco mais sobre como foi o processo de criação do site?

Aldo: O processo de criação do app LeR teve vários nuances, mas em resumo, primeiramente foi uma questão de propósito: criar algo que a) possa ser uma fonte de receita, b) seja um modelo inédito, c) que tenha um propósito social e d) que seja algo com o qual eu me identifique. Dentre as minhas paixões – cinema, música, livros e viagens – encontrei nos livros a fonte de inspiração para o app. A partir daí, alguns episódios da minha vida e muita pesquisa me levaram a tentar desenhar um modelo de negócio sustentável que pudesse fomentar a leitura a todos aqueles que querem ou gostariam de ter mais conexão, acessibilidade e diversidade. Recentemente recebi a notícia que um dos livros do app chegou em Moçambique para um usuário. Sensacional! O app ainda tem os desafios de se popularizar e potencializar seus modelos de monetização, mas estamos no caminho.

Reporter: Na sua visão, as tecnologias ajudam a aumentar a taxa de leitura?

Aldo: As tecnologias ajudam a facilitar o acesso à leitura e a sua diversidade. Em tese, isso significa um aumento na taxa de leitura. Só que é necessário o direcionamento e comunicação dos meios para que as pessoas estejam cientes das facilidades que a tecnologia oferece. Ela é sempre a ferramenta, enquanto as pessoas são os agentes transformadores.

Reporter: Você acha que a popularização dos audiolivros tem impactado a experiência de leitura das pessoas? Se sim, de que maneira?

Aldo: Cientificamente sim, pois a absorção de qualquer informação varia de acordo com o número de sentidos envolvidos. O leitor que se detém a ler um livro, seja físico ou digital, está concentrando sua atenção nele, o que possibilita até mesmo aflorar as emoções que o livro se propõe a trazer. Geralmente, quem consome um audiolivro o faz justamente por estar executando alguma outra tarefa no mesmo momento, como dirigir, navegar pela internet, entre outras. Então, normalmente a experiência é diferente, a absorção talvez seja menor, mas o fato de haver o interesse em consumir aquele conteúdo já é melhor do que não consumir de forma alguma. O mercado de audiolivros mira justamente no público que não tem tempo ou não prioriza a experiência de uma leitura com 100% de foco.

Reporter: Você acha que a tecnologia tem alterado a forma como os livros são publicados, distribuídos e consumidos?

Aldo: A tecnologia mudou tudo: como os livros são comprados, como são consumidos e como as pessoas se relacionam através da leitura. Há lojas de e-commerce de livros físicos novos, usados, digitais, audiolivros, há plataformas de leitura digital, há aplicativos que não têm livros, mas têm títulos onde os leitores avaliam e comentam, há editoras online para novos autores, há aplicativos onde novos autores postam seus livros, contos ou poesias, etc; Há os clubes de leitura dentro de redes sociais, clubes de leitura que funcionam através de assinatura, e há a plataforma de compartilhamento de livros gratuita já citada aqui que é o LeR, ao meu ver uma das melhores opções de conexão pessoal com leitura gratuita.

Reporter: Em que medida a tecnologia tem contribuído para a criação de comunidades de leitores online?

Aldo: A resposta dessa pergunta é uma ótima rima com a primeira pergunta: a tecnologia facilita a conexão humana e, portanto, tem tudo a ver com aproximar pessoas e criar comunidades, seja em aplicativos como o LeR, seja em grupos de WhatsApp ou em comunidades de leitura no Facebook e muito mais. O que o ser humano precisa muito exercitar agora é a aproximação física, isto é, não se isolar atrás de uma tela de celular e de fato criar laços com seus próximos. É trazer o melhor da tecnologia com a realidade do dia a dia.

Uma resposta

  1. A entrevista da academia em jornalismo Bianca Portela com o criador do App Ler Livros e Rostos- Aldo Alves, foi sensacional!!! Tratar da tecnologia e leitura é um assunto no mínimo muito surreal, principalmente no contexto atual no qual vivemos, onde a leitura tem sido desenvolvida de várias formas com a ajuda da tecnologia. Porém o que ficou claro na entrevista com o fundador do LER, é a necessidade da leitura ser democrática, gratuita e que aproxime as pessoas e não as torne isoladas. O app Ler tem essa finalidade de aproximar, criar laços, diálogos,opiniões,entre pessoas, repartições e comunidades. Parabéns pela iniciativa do desenvolvimento do app Empresário Aldo Alves!! Parabéns pela iniciativa da entrevista Jornalista Bianca Portela!!

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